Fenda #01 - Quando começou seu ano?
Para quem, assim como eu, não se prende a uma única meia noite.
Eu sempre acho curioso a movimentação que acontece nas últimas semanas de dezembro e nas primeiras semanas de janeiro. Enquanto o último mês do ano é marcado por compromissos, confraternizações, amigos secretos, planos para o ano seguinte e um sentimento generalizado de esperança e renovação. O primeiro mês do ano chega com metas a serem definidas, projetos que serão lançados, listas diárias com caixinhas infinitas para cumprir os planos que foram traçados, tudo com uma ansiedade, que só as cabecinhas que de vez em quando ficam muito focadas no futuro, são capazes de entender.
Conversando com amigos nesses primeiros dias do ano, encontrei pessoas que tem certeza de que 2025 vai ser o seu ano, porque ganharam um prêmio em um bingo ou porque conseguiram um novo cargo em outra cidade e vão finalmente poder se mudar. Outras pessoas pensam que 2025 começou carregado e denso, e os motivos aqui também são diversos, desde uma topada no canto da mesa logo no dia primeiro indo até um amigo muito próximo e querido que foi repentinamente internado, mas que felizmente vem se recuperando bem.
Falando da minha virada, ela foi completamente na contramão dos meus planos iniciais. A minha ideia era tá em um sítio, reunido com muitos amigos, curtindo uma boa música, comendo e tomando uns chopps na beira da piscina. A realidade foi outra. Na segunda, dia 30/12, peguei uma virose pesadíssima e fiquei colocando para fora tudo o que eu comia. No dia 31/12, me rendi e dormi antes mesmo da meia noite. No dia seguinte, entre um enjoo e uma tentativa de comer algo (afinal cada garfada de qualquer comida pedia pelo menos umas dez respirações profundas), lembrei que era 01 de janeiro. Fiz uma prece breve, agradeci por mais um ano, orei também pelos meus e coloquei mais uma garfada na boca.
Depois dessa virose, meus primeiros dias do ano não foram os mais animadores e seriam o suficiente para me fazer temer 2025. Mas eu lembrei que no ano passado, mais precisamente no dia 17 de janeiro, minha avó descansou depois de quase um mês internada. Minha virada de 2023 para 2024 acabou sendo marcada por idas ao hospital e muitos pedidos para que ela tivesse seu descanso, sem sofrer, depois dos seus 96 anos muito bem vividos.
Mesmo com isso tudo logo em janeiro, 2024 foi um ano incrível!
Não pela forma que começou, mas pelo que eu fui fazendo ao longo dele.
Ouvindo os planos e as angústias de pessoas próximas, baseadas em como começou o seu ano, não pude deixar de pensar no peso colocado em uma única noite. Ainda que eu goste muito de curtir a virada do ano e também tenha lá minha cota de anseios e desejos que são inundados pela atmosfera geral e iluminados pelos fogos de artifício, eu prefiro decretar ano novo sempre que me couber, com desejos, planos, cadernos, escritos, desenhos, mapas, imagens; rasgando planos antigo ou colando novas páginas.
Tem um trecho de um texto da Clarice Lispector que diz o seguinte: “Bom domingo para vocês. Segunda-feira é um dia mais difícil porque é sempre tentativa de começo de vida nova. Façamos cada domingo de noite um reveillon modesto, pois se meia noite de domingo não é começo de ano novo, é começo de semana nova, o que significa fazer planos e fabricar sonhos” sempre que eu leio esse texto fico me perguntando: quantos anos novos cabem em um ano? Provavelmente ao final desse ano, mais uma vez, eu não vou ter um número exato para responder, mas pretendo fazer valer cada virada de ano que eu criar.
Ah, ainda em tempo, feliz ano novo.