Já tem um tempo que tenho a convicção pessoal de que cada ser é um universo inteiro. Com suas expansões, contrações, seus buracos negros e supernovas. Carrego isso comigo sem saber direito de onde veio e, diferente de outros clichês que falei nas últimas newsletter, essa é uma crença minha (talvez nossa, agora).
Tenho dois palpites sobre a origem dessa crença, e de certa maneira, eles caminham em paralelo. Tenho uma habilidade desgraçadamente enorme de disfarçar meus sentimentos e fazer passar que está tudo bem nas vezes em que não está (mais uma vez, a diferença aqui entre qualidade e defeito mora na tal da dosagem). Creio que em alguma das angústias que vivi; daquelas que parecem fazer seu mundo ruir, que tem som, cor, cheiro e te causam efeitos físicos; percebi que a vida seguiu irrefreável e que eu também segui.
Ainda que tudo parecesse se estraçalhar continuamente, como um vórtice, eu me via capaz de dar uma altíssima gaitada, talvez pela piada mais besta possível, e isso em nada anulava o que me causava dor, em grande ou pequena proporção.
Sei bem que não sou o único com essa capacidade. Já vi as de fé fazerem o mesmo, e seguirem a vida, sabendo que o show tem que continuar, ainda que pareça que o palco quer te engolir.
Acredito que veio daí a minha percepção de que cada pessoa é um universo. Somos múltiplos, complexos, com movimentos variados, expansões e contrações acontecendo a todo momento. Ninguém sabe a explosão solar que alguém carrega no peito ou estrela cadente que escorreu junto daquela lágrima que desce sem cerimônia.
É essa crença pessoal que me faz tentar carregar sempre uma gentileza e a valorizar muito os detalhes e os momentos capazes de salvar um universo inteiro.
Recentemente cheguei no trabalho e vi uma amiga com fone de ouvido. Poderia não ser nada, se não fosse o fato de eu saber que ela mal escuta música e, quando escuta, são músicas que vão praticamente até 2009. Logo me peguei curioso para saber o que ela ouvia e que a fazia bater cabelo de leve.
Não demorou muito e eu nem precisei perguntar, ela começou a cantar. Não hesitei e me juntei ao coral. Mais vozes que já estavam na empresa também se juntaram e cantamos um bom pedaço da música. Juntos. Acredito muito que a beleza mora nos detalhes e em momentos assim. Durou poucos minutos, mas ardeu com uma luz intensa.
E a luz, sabemos, é capaz de viajar rápido. Me afasto dos conceitos da física para dizer com profunda certeza que essa talvez até passou a velocidade que conhecemos e foi forte o suficiente para iluminar o universo inteiro desse ser que vos escreve e estava precisando.
Se aprofunde nessa Fenda:
🎵 A música é essa, vale o clique. Vem, canta com a gente!
"percebi que a vida seguiu irrefreável e que eu também segui" - aqui eu chorei desavisada
E quando a música começou, foi impossível não abrir um sorriso do tamanho do mundo