O Carnaval sempre foi parte da minha vida em algum nível e sempre foi minha época preferida do ano (seguida muito de perto pelo Natal).
Lembro que quando eu era criança, viajava com minha família e durante o dia os pequenos se reuniam e orquestravam um mundinho com uma pequena guerra, na qual as munições eram as espumas em spray e as pinturas de guerra eram os cabelos coloridos. Lembro de correr, de rir enquanto acertava o adversário e, também, quando era atingido e via a espuma se misturando com o suor colorido pela tinta dos sprays de cabelo. Quando tinha alguma TV, a noite era separada para ver os desfiles das escolas de samba. Eu sempre achei incrível como um desfile inteiro podia ser baseado em um tema, e como esse mesmo tema se desdobrava em tantas seções.
Nos primeiros anos da adolescência, as viagens ganharam novos destinos e novas companhias, agora eu viajava acompanhado de amigos e as suas famílias. A guerra de espumas que ocupava minhas tardes quando criança pareceu ter me treinado um pouco para um dos eventos que acompanharia essa nova fase: o mela-mela. Descobri nessa época que a espuma quando acerta o olho arde desgraçadamente e maizena quando acerta a boca forma uma gosma seca horrível de se tirar (honestamente: zero saudade de um mela-mela, foi joia, deu pra rir e curtir, mas deu).
O som ficava por conta de paredões espalhados que tocavam os funks do início dos anos 2000 e a gente sabe que bastam essas palavras para definir muita coisa, e os “energéticos” e “refrigerantes” ficavam por conta de barraquinhas de bebida, que certamente não pediam identidade de ninguém e sempre apostaram nas bebidas da moda para ganhar o público, tipo a Jurubeba (um nome, uma cor e muitos sentimentos). Chegando nos primeiros anos de estágio, já na faculdade, o babado deu um up e eu consegui viajar para carnavais em outros estados. Conheci Olinda e amei tanto que fui por lá durante seis anos, inclusive foi no primeiro ano por lá que eu me assumi a primeira vez para um grupo de amigas do colégio e para as primas que estavam na viagem (história para outra Fenda, prometo); e conheci também o Rio de Janeiro e entendi, com toda a sua imensidão e uma infinidade de blocos de todos os tipos, que Carnaval também envolve planejamento.
Nesses últimos anos eu curti o Carnaval aqui em Fortaleza. Curtir o Carnaval na sua própria casa é diferente, o ritmo é outro mas os encontros pelas ruas e pelos blocos são igualmente deliciosos. Sempre tem aquele abraço apertado com um amigo, aquela amiga que você já conhece e se aproxima por compartilhar a mesma energia caótica, aquela amizade sincera que se faz na fila do banheiro ou comprando bebida e aquela troca de olhar enquanto duas pessoas cantam, a plenos pulmões, um dos vários hinos que o Carnaval tem.
Independente da época, para mim o Carnaval sempre foi uma licença poética. Um período em que a gente se permite viver sem muitas amarras, que as máscaras são outras que não as do dia a dia (que muitas vezes são necessárias), que a gente joga brilho na pele para reforçar o brilho de dentro, que o nosso riso fica mais largo e a gargalhada fica mais alta. É um momento do ano em que a gente pode se expressar livremente com roupas e maquiagens, e sem necessariamente fazer sentido. Parece que o nosso corpo ganha novos contornos, com novas permissões e a nossa alma ganha novas cores.
Já comentei várias vezes que queria Carnaval o ano todo e uma vez escutei de uma amiga “mas aí não teria a mesma graça, a gente ia enjoar” e eu respondi que não, porque para mim o Carnaval vai muito além da festa em si, é um estado mais permissivo, mais livre e mais leve. É essa licença poética no sentir. Confirmei isso mais uma vez esse ano, que foi marcante por motivos que, agora, não cabem aqui. Mas, ainda inebriado por tudo, desejo que a gente carregue o Carnaval no nosso peito e que brilhe o ano inteiro.
Outras Fendas por aí:
👑 Todos saúdem a Rainha Mayara Lima (sério, olha essa sincronia no ensaio!!).
🏆 Foi histórico, temos nosso primeiro Oscar e eu amo o clima de Copa do Mundo.
🎆 Para quem só começa o ano depois do Carnaval, deixo a Fenda #01, sobre ano novo.
Fenda #01 - Quando começou seu ano?
Eu sempre acho curioso a movimentação que acontece nas últimas semanas de dezembro e nas primeiras semanas de janeiro. Enquanto o último mês do ano é marcado por compromissos, confraternizações, amigos secretos, planos para o ano seguinte e um sentimento generalizado de esperança e renovação. O primeiro mês do ano chega com metas a serem definidas, proj…
"A tia Dani é a própria Cyssales"😁🫰❤️